É muito difícil precisar os impactos das decisões políticas na vida de cada brasileiro, mas alguns efeitos macroeconômicos podem ser sentidos de maneira geral na população
Em abril deste ano ouvíamos o ministro da Economia, Paulo Guedes, falar que o Orçamento de 2021 era “inexequível”. Enquanto isso, o Ibovespa estava acima dos 115 mil pontos e as projeções eram altistas. Não que estivesse indo tudo super bem, mas a sinalização de uma preocupação com as contas públicas agradava os investidores.
Agora, sete meses depois, nas discussões do Orçamento de 2022 a palavra “inexequível” não é nem mencionada, enquanto os esforços estão direcionados para aprovar despesas que ultrapassam o teto de gastos planejado.
A principal divergência é o valor médio de R$ 400 para o programa de transferência de renda, o Auxílio Brasil, proposto pelo governo. A ajuda, que será paga a 16,9 milhões de pessoas ao longo de 2022, representa cerca de R$ 30 bilhões acima do teto de gastos.
Os dirigentes estão discutindo possibilidades sobre como alocar essa despesa no próximo ano, abrindo espaço dentro do orçamento ou fora dele. Tal alteração constitucional precisa ser aprovada em esfera política, através da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios, que foi aprovada em 1º turno na Câmara dos Deputados.
Mas, dado todo esse cenário, como ele impacta a sua vida e os seus investimentos?
É muito difícil precisar os impactos das decisões políticas na vida de cada brasileiro, mas alguns efeitos macroeconômicos podem ser sentidos de maneira geral na população.
A potencial mudança no regime fiscal do Brasil, ultrapassando o que era o limite dos gastos públicos, aumenta a preocupação que investidores e parceiros internacionais têm em relação a dívida brasileira.
Vale lembrar que o país tem uma dívida pública equivalente a 80% do PIB (Produto Interno Bruto, indicador de geração de riqueza das economias), enquanto a média dos países emergentes é em torno de 50%.
A preocupação com a dívida pública reflete na piora da credibilidade do Brasil e nas curvas de juros. Com o aumento da percepção de risco do país, também são elevadas as expectativas de juros altos nos próximos anos para fazer jus a esse risco — afinal, sabemos que quanto mais risco, mais retorno o mercado exige.
Mas os juros mais altos são um efeito crônico que pode ser sentido por todos os brasileiros, seja nos investimentos ou no dia a dia. São eles, inclusive, que fazem o custo do dinheiro aumentar. Seja para você, pessoa física, que está buscando um financiamento imobiliário, uma compra parcelada ou que precisa utilizar, por alguma razão, os juros do cartão de crédito, mas também para as empresas.
Com taxas de juros subindo, o custo da dívida das empresas aumenta. Logo, elas ficam menos propensas a tomar empréstimos — ferramentas importantes para possibilitar investimentos e expansão das corporações. Com menos investimentos, há menos crescimento. Isso se reflete tanto no preço da ação da companhia quanto no nível de atividade da nossa economia.
Mas como eu disse, o dinheiro fica mais caro para todos. O fato pode desestimular inclusive o consumo, principalmente por estarmos em um momento em que a população já está em níveis recorde de endividamento.
Segundo dados do Banco Central, as famílias brasileiras já comprometem 60% da sua renda com serviço da dívida, o maior valor da série histórica.
Resumindo a engrenagem: quando o governo não se mostra comprometido em restringir os gastos ao que era previsto no orçamento, a credibilidade do Brasil se deteriora e a percepção de risco aumenta. Com isso, o mercado espera juros mais altos à frente para “pagar” esse nível maior de risco, o que encarece o dinheiro — seja para você pessoa física ou para as empresas. Nesse cenário, as pessoas tendem a consumir menos e as empresas a investir menos. As consequências de juros mais altos tendem a refletir no preço das ações, que vêm sofrendo recentemente.
Mas onde há crise, há oportunidade. Para os investidores de longo prazo, o momento pode ser ideal para focar em empresas que dependam menos do cenário local — como as empresas exportadoras de commodities —, e aproveitar os papéis que sofreram com o cenário e agora encontram-se em patamares de preço descontados.
Fonte: InfoMoney
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